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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Um garoto qualquer

E mais uma vez ele passava pela sala de aula com os óculos na frente dos olhos mel acinzentado e o cabelo preto jogado para trás.
Parece loucura gostar de um garoto como ele, vive isolado e dá impressão que não gosta de pessoas, anda até sua mesa como se ele fosse o único que existisse, e mesmo assim,
eu sinto algo.
Sinto algo por ele que vai além disso tudo, não sei e não consigo explicar como é, e talvez eu nunca consiga. É necessário mais do que palavras para explicar, mais do que boca para pronunciar.
Ele pode ser todo esquisito, mas eu sinto que o amo e vejo nele algo inexplicável e maravilhoso que talvez nem exista de verdade, entretanto, isso não importa, não mais.
Me sinto completamente hipnotizada quando ele olha para luz e sorri sozinho, parece que ele é feliz assim, sem ninguém por perto e até deve ser bom, ninguém irá te iludir, te fazer chorar, te ignorar ou qualquer outra droga dessas.
Depois que voltamos das ferias eu estava decidida a ir falar com ele.
Quando o sinal tocou para irmos embora eu fui correndo até ele e nós começamos a conversar, ele era muito legal - ou talvez eu estivesse apaixonada demais para dizer ou achar o contrário -, mas quando eu perguntei o porque dele ficar sozinho, o sorriso dele saiu do rosto, parou de andar, olhou para mim, sorriu de novo e disse:
 Eu não preciso de ninguém para ser feliz. As outras pessoas não precisam de ninguém para viver e mostram isso o tempo todo, mas se sentem impotentes para serem felizes sozinhas. Eu posso fazer tudo sozinho, inclusive ser feliz e creio que esse é o certo.
Não sabia muito bem o que responder há ele, de certa forma eu achava que ele estava errado. Eu não conseguiria viver sem minha família ou meus amigos, mas a forma com que ele disse tudo aquilo pareceu que ele tinha certeza do que dizia, então resolvi perguntar se ele não tinha família ou algo assim e ele abriu ainda mais o sorriso e me respondeu:
— Eu tenho família, tenho amigos fora da faculdade, tenho pessoas que gosto e que gostam de mim, o que eu quis dizer é que se tudo desmoronar e eu for a única coisa que restar da minha vida e de mim mesmo, eu vou continuar feliz e vou continuar a viver, porque a minha felicidade não está nos outros ou em objetos, a minha felicidade está em mim, ela é tudo que eu sou.

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