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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Minha vida após sua morte

 Já parou para pensar em todas as pessoas que passam por você todos os dias?
Em quantas delas devem estar mortas?
Eu sou uma delas.
Um dia desses, logo depois da morte de minha tia,
eu estava simplesmente acabada, e as pessoas não se importavam tanto em me ajudar, elas sorriam para mim e falavam: Ela está em um lugar melhor, se você ficar chorando não vai deixar a alma dela descansar. Você precisa superar.
Por conta de vários comentários desses e meu pensamento estupido de que eu não podia chorar, eu melhorei, fiquei “bem”.
Ia trabalhar como se nada tivesse acontecido e vivia minha vida como se ela nunca tivesse existido. Algumas vezes, quando a saudade apertava, fingia que nunca havia tido tia nenhuma e continuava minha vida. Três semanas depois da morte dela eu estava ótima, novinha em folha. E aí as pessoas, mais uma vez, começaram a fazer comentários, como: Nossa, você superou rápido, né?
Isso fazia com que eu me sentisse culpada e confusa, afinal, eles não queriam que eu superasse? Fingisse que nada tivesse acontecido?
Depois de uma semana escutando coisas desse tipo, e me sentindo mal por “estar bem”, eles começaram com comentários diferentes, do tipo: Fico feliz que tenha esquecido e superado. Ou. Que bom que já esqueceu, pode viver sua vida normalmente agora, isso é ótimo.
E eu entrei em desespero.
Não sabia mais o que fazer. Eu não tinha superado, muito menos esquecido, e não queria voltar a viver normalmente, isso nunca mais aconteceria. MINHA TIA HAVIA MORRIDO.
Não teria mais almoço em família com suas risadas, tão pouco suas piadas sobre os meus relacionamentos fracassados.
Quanto mais o tempo passava, mais eu entrava em desespero, mais eu via que não existia mais tia Lucia, em lugar algum.
E então, dois anos depois de sua morte, depois de eu ter aguentado o máximo que pude, comecei a faltar o trabalho e parar de fazer as ligações que fazia para minha mãe todos os dias, não conseguia faze-lo mais, não atendia o telefone, muito menos a porta. E por incrível que pareça, eu não chorava, na verdade, eu passava o dia todo olhando para a parede, tentando lembrar de como era sua voz e seu rosto. Já que não havia pensado e repensado em tudo que vive com ela nos dois anos seguintes a sua morte, agora, que eu queria e precisava lembrar dela, não conseguia.
As pessoas começaram a achar que eu havia enlouquecido, e eu havia sido demitida.
Fiquei duas semanas trancada no meu quarto sem comer quase nada e sem quase beber água, me lembrei no meu último namorado e de quando terminei com ele, minha tia havia me consolado, e esse foi o estopim para acabar comigo.
Chorei pelos dois meses que se seguiram, e no total, passei dois meses e duas semanas sem falar com ninguém. Mas, agora, sinto minha alma me agradecer.

Via Aléxya Gama

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